Poluição atmosférica viola os Direitos Humanos afirma relator da ONU
"Para contextualizar esse número, de sete milhões, são mais mortes todos
os anos do que o total causado pela malária, a tuberculose, o HIV, o
SIDA, a guerra e os assassínios", referiu o relator, em entrevista à
Fundação Thomson Reuters.
"É uma crise de saúde global que tem de ser abordada", sublinhou este
professor de Direito, Politicas e Sustentabilidade na Universidade
British Columbia.
"A poluição atmosférica viola os direitos à vida, à saúde, os direitos
das crianças e viola ainda o direito a viver num ambiente saudável e
sustentável", defendeu.
Nos últimos 15 anos, a comunidade médica e cientifica tem identificado a
poluição atmosférica como causadora de diversos problemas de Saúde,
desde doenças do coração até ao cancro do pulmão e a desordens
neurológicas, como o Alzheimer.
Invisível e inodora
Por outro lado, apesar das comunidades mais pobres e marginalizadas do
planeta serem as mais afetadas pela poluição do ar, o problema tem
estado a ser ignorado em muitos locais devido aos tratamentos da parte
visível da poluição, que a torna muito mais difícil de aperceber e fácil
de ignorar.
"Abordamos alguns tipos de poluição atmosférica. nalguns sítios, e por
isso muita da poluição que enfrentamos hoje em dia não pode realmente
ser cheirada, nem vista. São estas particulas microscópicas que as
pessoas estão a inalar", referiu Boyd.
Há contudo soluções claras para o problema, lembrou ainda o especialista
esta segunda-feira em Genebra, na apresentação do seu relatório ao
Conselho dos Direitos Humanos, referindo uma série de medidas que os
Governos podem adotar para diminuir este problema.
Porque a fonte de poluição varia de país para país, cada um deve adotar a
estratégia mais adequada ao seu caso - seja poluição devida à queima de
carvão para obter energia, a transportes poluidores ou ao fumo de fogos
para cozinhar. "Mas sabemos que soluções são essas", afirmou Boyd.
Algumas medidas
Realizar medições regulares da qualidade do ar, identificar as
principais fontes de poluição atmosférica, educar e atrair a atenção do
público para o problema, a par de legislação, de regulamentos e do
estabelecimentos de níveis máximos obrigatórios de poluição, são
algumas propostas.
Os países devem ainda desenvolver planos para promover a qualidade do
ar, referiu Boyd. "O poder dado por olhar o problema através das lentes
dos Direitos Humanos pode realmente ser um catalisador para a ação",
defendeu o relator da ONU.
O passo crucial, para já, é acabar com as centrais de energia a carvão,
algo que os países mais ricos poderão fazer até 2030, disse. O Canadá e o
Reino Unido, entre outros, já concordaram com a mudança, sublinhou
Boyd.
Prevenção
Além de salvar vidas, a diminuição da poluição atmosférica irá também
contribuir para deter as alterações climáticas, considerou ainda o
responsável.
"A relação entre poluição do ar e alteração do clima é muito próxima. Ao
adotarem-se medidas para tratar da poluição atmosférica, também estamos
a lutar contra a mudança do clima", referiu.
Katharina Rall, uma investigadora da divisão do Ambiente da ONG Human's
Rights Watch, diz que alguns Governos já estão a braços com queixas de
Direitos Humanos relacionadas com a poluição atmosférica, tendo sido
forçados a agir.
Rall quer que os Governos adotem uma postura preventiva em vez de
reagirem apenas quando alguém lhes põe um processo ou quando as pessoas
começam a adoecer.