Dénis Graça escreve carta de renuncia aos CVMA
O músico Cabo-Verdiano Denis Graça publicou na tarde desta Segunda-Feira, 1 de Abril, na sua conta pessoal do facebook uma carta aberta de renuncia aos Cabo Verde Music Awards onde enumera 11 razões para ter tomado esta decisão. Leia a publicação na integra e no fim deixaremos o link para o post original:
"Povo de Cabo-Verde, Cabo-Verdianos na Diáspora, colegas músicos e demais interessados:
Partilho convosco a carta da minha renúncia à CVMA, melhor, a esta CVMA, ficando eu sujeito à v/ crítica e apreciação. Este é o meu grito de revolta.
A vós, a quem tudo devo,
Respeitosamente,
DG RECORD,
Denis Graça
CARTA DE RENÚNCIA À CVMA
Mérito ou Conveniência (?!?)
…, Nós não fazemos Kizomba…! O que é Kizomba? De onde emerge o termo Kizomba? Kizomba reporta a música, dança ou a algum outro vínculo de natureza cultural?
Se eu, o senhor Cabo Zouk, nascido em Cabo-Verde, filho de cabo-verdianos, com “DNA” cabo-verdiano, se as minhas pintas são, orgulhosamente, ostentações das minhas origens e reflectem o meu orgulho, espelho da minha bandeira, porquê, então, teimar em dizer que um filho meu tem “DNA” que foge às minhas pintas, desculpem, origens?
Obviamente que esse filho não é meu, esse filho é um filho BASTARDO…!
Mas, se eu, a senhora Kizomba, que não sou música, não me chamo música, mas sim uma outra metade de algo que se chama música, encontro-me com esse senhor, de nome Cabo-Love, Cabo Zouk…, e, ostento, face a ele, toda uma exímia capacidade de articular uma dança linda, sedutora, estética, criativa, única para os lados onde eu nasci, e ele se apaixona e convida-me ao namoro, desculpem, à dança, desculpem ainda, a kizombar, Devo recusar?
E, não é que começamos, mesmo, a namorar, desculpem novamente, a dançar/kizombar? Ora, a partir daí “a coisa pegou”, virou moda e…, nasceu um filho. “A pedido” de um amigo de longa data, a quem fazemos vénia, o seu nome passou a ser Kizomba. No país desse amigo de longa data, nasceu o nosso filho: foi aí que o/a nosso/a Kizomba começou a cantar e a dançar. Tanto cantou e dançou que encantou, e, então, o/a Kizomba deixou de ser conhecido/a como a harmonia do canto e da dança/passada, para ser somente a música.
Emergiram os glutões, os sugadores de sangue/suor de diferentes quadrantes: vampiros que sugavam, consoante os galhos onde se penduravam (rádios, jornais, esqueléticos empresários de eventos em discotecas, festivais, atribuição de prémios, etc…), sanguessugas que se colavam à pele, vivendo à custa do dom de terceiros (uns pendurados nos mesmos galhos, e, outros, noutros…), todos, sem o mínimo escrúpulo, tentando beber, até à última gota, o sangue daqueles que, arduamente, lutavam para construir um conteúdo, uma música, um hino, uma nação. Salvaguardam-se aqueles, bem poucos, que se distanciaram desse crepúsculo aterrador.
Os tempos foram passando, e hoje, depois de 20 anos de carreira, sinto o calor daqueles que nunca me abandonaram, a quem nunca defraudei, e, com quem fiz um pacto explícito de longa duração: sinceridade, entrega total e produção de trabalhos de excelência na qualidade. Esses são o povo, aqueles por quem os artistas devem ter o máximo respeito. É para o povo que eu canto: os pais do meu povo, os irmãos do meu povo, as crianças do meu povo. É com orgulho que ostento uma bandeira que diz: uma criança ouve a nossa música e eleva o seu coração. É o povo que luta por mim contra aqueles que estão pendurados em galhos, entretecendo laços difíceis de evitar.
Iniciamos a nossa carta encimada por um título de renúncia à CVMA, questionando: Mérito ou Conveniência? Os que se penduram em galhos, foram saltando de galho em galho, mudando de corpo e indumentária e em sequências de convites, amiguismos e outros interesses, tendo, supostamente, formado um grupo “todo o terreno”, para, a seu belo prazer, atribuir galardões, a maior parte das vezes sem mérito, e com claros sinais de conveniência:
1. Nomear alguém que somente tem uma obra…!?, em várias categorias, face a um mar de artistas que tanto trabalharam para honrar o país!! Isto é mérito ou conveniência?
2. Nomear alguém, por contiguidade familiar e outras aproximações! Isto é mérito ou conveniência?
3. Nomear alguém por laços sentimentais! isto é mérito ou conveniência?
4. Escolher elementos sem competência para avaliar questões musicais, que, encimados e com um microfone à frente dizem: este ano vamos ser rigorosos na análise das músicas, batidas… !!, isto é mérito ou conveniência?
5. Trazer avaliadores de outros países/culturas para apresentar o evento (e não estamos a falar de patrocinadores), que não têm nenhuma ligação a Cabo-Verde!, isto é mérito ou conveniência?
6. Deixar de lado, e por que razões?, artistas que estão no top das preferências, por meses consecutivos, em cabo verde!, isto é mérito ou conveniência?
7. Gerar climas de tensão/emoções entre o que é música tradicional de Cabo-Verde e outras mais recentes, quando todas são cantadas por Cabo-Verdianos!, isto é mérito ou conveniência?
8. Fingir esquecer nomes de cabo-verdianos espalhados por este mundo fora, com capacidades vocais bem acima da média e de excelência!, isto é mérito ou conveniência?
9. Humilhar artistas dizendo que uma determinada música, que até venceu em uma categoria (anos anteriores), não era música, porque era um African house, e dizia vezes sem conta “já bo cre mas”!, isto é mérito ou conveniência?
10. Esquecer-se de apontar a música “Conta ma mi”, foi esquecimento ou premeditado?
11. Não levar em conta a vontade do povo expressa nas suas preferências, e.g., “Famosos de Cabo-Verde, Facebook CVMA e várias páginas de Facebook de diferentes pessoas!, é mérito, conveniência, ou …!?...
Entre muitas outras situações, contabilizei estas como as mais mediáticas, andam na boca do povo, mostram que o povo está revoltado. É impossível tapar o sol com uma peneira…! Não vejo sinceridade, competência, isenção e lisura nas movimentações do corpo CVMA.
Para terminar realçamos um carácter negligente, desafiador e de baixo nível, da CVMA relativamente ao músico Denis Graça:
• Entre todas as situações apontadas, o espírito de desafio da CVMA é exacerbado, e ostensivamente projectado ao nomearem o músico Denis Graça na categoria “Melhor Kizomba”! Melhor Kizomba? Onde está a idoneidade e a competência do júri da CVMA, como regulador do relacionamento interpessoal e na resposta que deverão dar ao povo de Cabo-Verde? Em vez de normalizarem o clima social, eles mesmos lançam achas para a fogueira! Bravo CVMA: que carácter!?
• Numa das minhas digressões, ao Brasil, um jornalista brasileiro inquiriu-me: …de que cidade Angolana você é? Ora, aí está: Kizomba/Angolano, cantor de “Kizomba”, ainda que Cabo-Verdiano/“Angolano”…; Nós, como músicos, símbolos culturais de Cabo-Verde, somos embaixadores de Cabo-Verde nos quatro cantos da terra…! Não é Cabo-Verde um dos muitos símbolos turísticos no mundo…! Porquê, então, sendo eu Cabo-Verdiano, estou a representar, sem saber, uma outra nação? Está tudo dito.
O que é que acham? Não são as razões apresentadas, ao longo da presente, motivos mais do que suficiente para nos renunciarmos a qualquer nomeação da parte da CVMA? Não posso pedir que, seja ele que for, se renuncie, mas, EU, Denis Graça, renuncio-me publicamente, e de cara levantada, a toda e qualquer nomeação que venha da CVMA, melhor, desta CVMA.
BEM-HAJA, Cabo-Verdianos,
DG Records
Denis Graça"
https://www.facebook.com/denisgraca/posts/10157203637344250?__tn__=K-R