Toneladas de plástico dos Estados Unidos estão a ser enviadas para países mais pobres
Postado
18/06/2019 09H13
Uma investigação do The Guardian intitulada de "Estados Unidos de Plástico" revela
que a superpotência está a enviar centenas de milhares de toneladas de
plástico anualmente para alguns dos países mais pobres do mundo.
Os EUA geram 34,5 milhões de toneladas de plástico por ano, nove por cento do qual é reciclado. Mas para onde vai?
Aproximadamente 68 mil contentores com plástico norte-americano foram exportados para países em desenvolvimento, que não têm capacidade para gerir corretamente pelo menos 70 por cento dos seus próprios resíduos plásticos. É o caso do Bangladesh, da Etiópia, do Laos e do Senegal. Isso significa que os próprios resíduos destes países são frequentemente colocados em aterros a céu aberto.
A China e Hong Kong tratavam de 1,6 milhões de toneladas de plástico para reciclagem norte-americano, o que representava mais de metade do plástico dos EUA. Nos territórios asiáticos, o plástico tornou-se uma indústria, onde o mais valioso é reutilizado para fazer novos produtos, que seriam mais tarde vendidos no Ocidente.
Contudo, grande parte do plástico que os EUA enviavam encontrava-se contaminada com comida ou sujidade, ou não era reciclável, tendo de ser transportada para aterros sanitários. Assim, a China decidiu proibir a entrada deste tipo de plásticos em 2017, o que levou os EUA a transportar o lixo plástico para outros países onde a regulação é insuficiente.
Desde a proibição da China, a Malásia tornou-se o principal destino das exportações de plástico norte-americano. Em 2018, os EUA exportaram 192 mil toneladas de plástico para este país. Em outubro do ano passado o Governo malaio proibiu a importação de plástico para os próximos três anos, mas a importação ilegal continua.
Em 2018, os EUA enviaram 83 mil toneladas de plástico para o Vietname. O primeiro-ministro, Nguyễn Xuân Phúc, ordenou a redução das importações mensais de plástico, mas o problema parece persistir.
Uma vez que países como a Malásia, a China e o Vietname reduziram as suas importações de plástico, novos países estão agora a recebê-lo. Países como o Cambodja, o Laos e o Quénia, que não recebiam praticamente plástico oriundo dos EUA.
Nas Filipinas, cerca de 120 contentores chegam todos os meses. Apesar da insatisfação dos locais, a reciclagem é uma das áreas que gera maiores rendimentos. E alguns cidadãos entrevistados pelo The Guardian afirmaram que pensavam que o plástico era parte do lixo que as Filipinas fazia. Desconheciam que algum desse lixo estava a ser importado dos Estados Unidos.
Que acontece ao plástico depois da reciclagem?
A primeira paragem é um estabelecimento de reciclagem, onde o plástico é
dividido por embalagens de acordo com o seu tipo, e preparado para ser
vendido. Por sua vez, o plástico é vendido a compradores que queiram
derretê-lo, ou granulá-lo para transformá-lo em algo novo. O plástico
tornou-se um bem económico, parte de um negócio. A ideia transmitida
pela indústria de plástico norte-americana de que este material é levado
para uma fábrica, onde é facilmente transformado em algo novo, está a
revelar-se falsa.
De facto, segundo Andrew Spicer, professor da Universidade da Carolina do Sul, "as pessoas não sabem o que está a acontecer ao seu lixo. Acham que estão a salvar o mundo. Mas o negócio internacional de reciclagem vê-o como uma forma de fazer dinheiro. Não têm existido regulações – só um mercado longo e sujo, que permite que algumas empresas se aproveitem de um mundo sem regras".
Estima-se ainda que 20 a 70 por cento do plástico que entra nos estabelecimentos de reciclagem é recusado porque não é reutilizável, o que significa que poderá ser levado para aterros.
Consequências para quem fica
A exposição dos trabalhadores às operações de reciclagem do plástico comporta consequências nefastas, de acordo com um novo estudo. As toxinas resultantes da queima ou do processamento de plástico podem causar doenças respiratórias, cancro e disrupção endócrina, entre outros.
O impacto dá-se também na contaminação das águas, na destruição de colheitas, e no aumento do crime organizado
nas áreas onde há mais importações. Neste momento, estima-se que o lixo
existente no oceano Pacífico seja superior à quantidade de plâncton.
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