Eleições Autárquicas: Cientista político aborda a dinâmica das candidaturas independentes
O
cientista político Daniel Henrique Costa considera que a dinâmica das
candidaturas independentes reflecte a vontade da sociedade civil, dos
conflitos/competição internos entre os partidos, assim como de estratégia dos
partidos em determinados municípios com baixa popularidade.
Em entrevista à Inforpress, este especialista julga ser “importante”
para a vitalidade do processo eleitoral e democrático as candidaturas
independentes para perceber a diversidade de interesse da demanda na sociedade
cabo-verdiana, marcada por um forte sistema bipartidário nacional e local.
Daniel Costa especificou que a nível local o sistema tem sido
contraposto com presenças permanentes nas eleições autárquicas por grupos de
cidadãos independentes, que entende ser “importante” para revitalizar a cada
momento do processo eleitoral e democrático, assim como reflectem as avaliações
a nível das governações locais.
“A nível da sociedade civil é mais um reflexo da avaliação critica sobre
a governação partidária nos municípios, embora a frequência com que grupos
independentes surjam desta iniciativa autónoma e efectivamente independente de
partidos, a frequência tem sido menor em que as candidaturas independentes
saiam de dentro dos partidos”, observou.
Neste particular, realçou que aqueles que são preteridos pelas
lideranças partidárias pautam pelas candidaturas independentes, mas que existe
caso em que os partidos do arco do poder, MpD e PAICV, orientem, por vezes,
militantes para se lançarem como independentes apoiados pelo partido, quando se
percebem da baixa popularidade nos municípios.
Sublinhou que esta baixa frequência está relacionada com a “fraca
dinâmica” da autonomia da intensidade da sociedade civil na participação
política, alegando que quando grupos de cidadãos fazem uma avaliação negativa
da governação partidária nos municípios acabam organizando-se em grupos
independentes.
Um outro ponto “importante” deste surgimento de grupos independentes
genuínos, sentenciou, é o reflexo da avaliação reflectida no número de
abstenção, que tem uma linha ascendente de tendência, tanto nas eleições
legislativas e presenciais, mas também nas autárquicas.
Com 11 candidaturas independentes na corrida às autarquias de 25 de
Outubro a nível nacional, Daniel Costa ressaltou que de uma forma bastante
significativa nessa gestão de surgimento de candidaturas autónomas, em boa
parte resulta das competições internas nos partidos políticos.
Estudioso do processo político/eleitoral cabo-verdiano, Costa disse que
não constitui surpresa a onda das candidaturas ligadas a grupos de cidadãos,
porquanto a abstenção vem reflectindo o “descontentamento crescente” com os
resultados políticos da governação local e nacional, no seio da sociedade
cabo-verdiana.
Agora as redes sociais, explicitou, permitiram uma maior dinâmica na
comunicação e intercomunicação entre pessoas, através de notícias, imagens
(fotografias e vídeos), pelo que as pessoas ganharam mais liberdades de
expressar, o que, a seu ver, tem resultado numa maior dinâmica e mobilização.
Isto, na visão de Costa, gera uma dinâmica de intercomunicação entre
pessoas e grupos em comunidades, facilitando a mobilização civil e política em
todo o mundo, inclusive em Cabo Verde, realçando que “se a nível nacional os
governos não têm dado respostas adequadas às demandas das populações, torna-se
ainda pior na governação local”.
Para este que é também professor universitário, a “falta de competência”
da administração local para dar respostas às muitas necessidades locais,
contrapõe com as promessas feitas pelos candidatos para as quais não têm a
capacidade nem recursos financeiros humanos e institucionais, sobretudo a nível
de emprego, educação e habitação social.
A este propósito, frisou que as últimas chuvas expuseram as fragilidades
que têm sido permanentes e, cada vez mais grave, assim como as incapacidades do
governo central e local, nas cidades como Praia e Mindelo no qual a pressão
afigura-se maior sobre o território urbano, por falta de políticas programadas
e de longo prazo.
Baseado nos dados gráficos da sua pesquisa, este cientista político
referiu que apesar da retoma da onda crescente de candidaturas independentes
nas próximas autárquicas de 25 de Outubro, o ano de 1991, o da abertura ao
pluralismo democrático, continua a liderar a tabela com mais candidaturas independentes,
14, ao passo que os 11 deste ano partilham o segundo posto com os concorrentes
de 2000.
Segue-se 1996 com 10 candidaturas independentes, 2012 com sete, 2004 com
seis, 2016 com cinco e 2008 com apenas quatro.
FONTE:
INFORPRESS