Pedólogo diz que o cemitério de Achada de S. Filipe não constitui problema para a saúde pública
O investigador
Jorge Brito disse hoje à Inforpress que a localização do cemitério de Achada de
S. Filipe, na Praia, não constitui problema para a saúde pública nem os lençóis
freáticos, caso existam, correm risco de contaminação.
“Nos últimos anos, a localização dos cemitérios tornou-se muito
importante devido a questões sanitárias”, afirmou o pedólogo que explica que a
decomposição de um corpo humano dá origem a uma espécie de líquido chamado
necrochorume, o qual é constituído 100 por cento por água, mas contém sais
minerais e produtos orgânicos.
Segundo Brito, estas substâncias contêm bactérias, vírus, medicamentos e
chumbos, por causa dos adereços que se põem nos caixões, enfim, uma série de
coisas poluentes que devem ser levadas em consideração.
Defende que é por essas razões os cemitérios têm que ser construídos
longe, em distância vertical, dos lençóis freáticos.
“Inclusivamente, fórmulas foram estabelecidas, ao que parece, segundo a
literatura, o lençol freático tem que estar a mais de seis metros da base dos
caixões e penso que em Achada de S. Filipe o lençol freático está muito mais
longe do que seis metros”, precisou o professor universitário.
Em seu entender, uma outra condição para que o cemitério seja inócuo, ou
seja, para que não haja perigo, a terra que fica logo à superfície “não pode
ser impermeável ou pouco permeável”.
Para Jorge Brito, por outro lado, a terra “não pode ser demasiadamente
permeável”, o que significa que a permeabilidade deve ser “média o que corresponde,
mais ou menos, a 20 ou 40 por cento de argila”.
Conforme suas explicações, tem que haver esta percentagem de argila em
ordem a permitir que haja uma “boa aeração” dos solos, quer dizer, deve
existir ar que ajuda a decomposição dos corpos, inclusivamente a morte das
próprias bactérias após terem consumido o defunto.
O investigador clarificou ainda que na preparação dos covatos tem que
haver areia.
“Tem que ser, digamos, um solo ligeiro e na camada mais para baixo
é necessário ter algum teor de argila por causa dos vírus que
passam através dos poros, mas a argila consegue retê-los”, indicou o pedólogo.
“É preciso que as condições pedológicas do solo, onde é enterrado o
corpo, sejam adequadas dentro dos parâmetros e é preciso que o lençol freático,
caso exista, esteja, por uma questão de segurança, a mais de dez metros em
relação ao local”, ressalvou o antigo reitor da UniPiaget que descarta qualquer
hipótese de o furo de água a jusante ao sepulcrário de S. Filipe vir um dia a
ser contaminado.
Conforme suas palavras, Achada de S. Filipe, por ser uma região quente e
seca, não apresenta nenhum problema para receber um cemitério.
Instado a pronunciar-se sobre as terras transportadas para a formação de
covatos no referido cemitério, Jorge Brito entende que se trata de um
“procedimento normal”.
“Provavelmente, por causa de sedimentos, a própria terra torna-se menos
permeável e é preciso, digamos, trazer terra “fofa” para haver aeração
para que haja uma decomposição mais rápida”, asseverou.
Acredita, porém, que, no futuro, não será necessário levar a terra para
o cemitério de S. Filipe, porque “haverá uma estruturação do próprio solo”.
Na sua opinião, não é por acaso que se colocam árvores nos cemitérios,
porque, argumenta, as “plantas ajudam que o solo tenha uma boa estrutura para
haver uma maior aeração”.
A existência de minhocas nos cemitérios, afiançou Jorge Brito, é “muito
bom” porque contribui grandemente para a distribuição dos vírus e de muitas
bactérias.
O cemitério de Achada de São Filipe tem capacidade para 4.200 campas e
custou aos cofres públicos mais de 30 mil contos e veio responder às
necessidades dos munícipes relativamente aos enterros na capital do País.
Além de instalações administrativas, dispõe de sanitários, parque de
estacionamento e está prevista a construção de uma casa mortuária devidamente
equipada para a realização de velórios, onde serão vendidos artigos funerários.
A cerimónia da sua abertura oficial ocorreu a 03 de Novembro de 2017 e
foi presidida pelo bispo da Diocese de Santiago, cardeal Dom Arlindo Furtado,
na presença do presidente da Câmara Municipal da Praia, Óscar Santos.
A cidade da Praia, que neste momento conta com mais de 160 mil
habitantes, já vinha sentindo alguma pressão em relação à oferta de
infra-estruturas básicas e outras ofertas sociais.
O cemitério da Várzea, até então, era o único espaço de sepultura do
município da Praia, fora construído há centenas de anos.
Instado a pronunciar-se sobre a possibilidade de o aterro sanitário do
Monte dos Botes, no município de São Domingos, interior de Santiago, contaminar
possíveis lençóis freáticos, Jorge Brito foi cauteloso em emitir uma opinião,
alegando que desconhece se todas as condições necessárias foram tidas em conta
na construção desta infra-estrutura.
Entende, porém, que era necessário tomar “algumas precauções”,
nomeadamente a impermeabilização e o tratamento do chorume (líquido de
decomposição, rico em minerais e produtos orgânicos de degradação).
“Tratar o chorume é fácil, mas é muito caro e, do ponto de vista económico,
não compensa”, prognosticou o pedólogo, apontando que a solução seria desviar
este material para Estações de Tratamento das Águas Residuais, o que, neste
caso, é quase impossível, tendo em conta a distância que ficam os ETAR.
Na sua opinião, tem que haver um “sistema de drenagem adequado” para as
águas pluviais, porque “não é saudável” que estas entrem no aterro, visto
que vão aumentar a quantidade de microrganismos e poluentes.
Jorge Brito é pedólogo e químico. Fez doutoramento (PhD) em Ciências do
Solo e da Água na Universidade de Arizona, Estados Unidos de América.
FONTE:
INFORPRESS