Maior apreensão de droga em Cabo Verde pode render mais de 635 mil euros ao Estado
O Governo
cabo-verdiano vai tentar vender em Janeiro, por pelo menos 635 mil euros, um
navio porta-contentores de 100 metros, dado como perdido a favor do Estado após
a maior apreensão de droga no arquipélago.
De acordo com o edital do concurso lançado pelo
Ministério das Finanças de Cabo Verde e ao qual a Lusa teve hoje acesso, a
venda será feita por concurso público mediante proposta fechada, com uma base
de licitação de 70 milhões de escudos (635 mil euros), e a abertura das
propostas terá lugar em 05 de Janeiro, pelas 10:00 (11:00 em Lisboa).
Construído na Alemanha em 1984, o navio
cargueiro “Eser” encontra-se ancorado no porto da Praia desde 31 de Janeiro de
2019, após ter sido apreendido com mais de 8,7 toneladas de cocaína em 260
fardos, navegando então com bandeira do Panamá.
A venda do navio pelo Estado cabo-verdiano
acontece depois de o tribunal da Praia ter condenado, em 20 de Fevereiro deste
ano, a penas de 12 e 10 anos de prisão os 11 tripulantes russos daquele
cargueiro, na sequência daquela que ainda é considerada a maior apreensão de
cocaína em Cabo Verde.
Aquando da leitura do acórdão, a juíza
presidente do colectivo que julgou este caso, sob fortes medidas de segurança,
afirmou, para justificar a decisão, que os 11 arguidos em julgamento agiram em
conjunto e de livre vontade, atcuando como “correios de droga”, mas as penas
foram graduadas face às funções de cada um no navio.
O comandante do navio cargueiro “Eser” foi
condenado a 12 anos de prisão efectiva.
Os restantes 10 tripulantes, também pelo crime
de tráfico de estupefacientes agravado, em coautoria material, foram condenados
a 10 anos de prisão efectiva, enquanto o processo em relação a um outro
tripulante russo, que também foi detido em Janeiro de 2019, foi extinto, porque
entretanto morreu.
O comandante do navio seria o elo de ligação com
os traficantes – o tribunal não deu como provado que os marinheiros integrassem
a rede criminosa -, ao receber as comunicações via e-mail e ao ter feito o recrutamento
dos restantes, “pese embora” os tripulantes, durante o julgamento, segundo o
acórdão, “tentassem esconder” que tinham conhecimento dos estupefacientes que o
navio transportava.
Conforme era pretensão do Ministério Público, o
tribunal deu ainda como perdido a favor do Estado cabo-verdiano o navio
cargueiro utilizado para o transporte da droga, com 100 metros de comprimento e
peso total de 3.800 toneladas, que era então propriedade da empresa Ecolive
Panamá, e do seu recheio.
Segundo o tribunal, o navio partiu do porto de
Colón, no Panamá, apenas com os tripulantes russos e sem qualquer carga, em 04
de Janeiro de 2019. O objectivo seria transportar carga do mar das Caraíbas
para o porto de Tânger, em Marrocos, percurso que o tribunal também considerou
como suspeito, por estar dentro das rotas internacionais de droga da América do
Sul para o continente europeu.
Durante os 26 dias de viagem, até atracar no
porto da Praia, a investigação das autoridades, em colaboração internacional,
permitiu concluir, segundo o tribunal, que o navio apresentou movimentos
suspeitos, nomeadamente ao longo de 10 dias, ao largo da Colômbia, Venezuela e
Aruba, com várias paragens em alto mar.
Para o tribunal, o transbordo da cocaína foi
feito precisamente nesse período, tendo todos os tripulantes operado em
conjunto no sentido de levar a “carga ilícita ao seu destino”.
Foi a morte de outro dos tripulantes (13 no
total), ainda em alto mar, que levou o navio a seguir para Cabo Verde, onde
atracou em 31 de Janeiro de 2019, na Praia, onde permanece ancorado desde
então.
Após uma revista da Polícia Judiciária no dia
seguinte, a droga, segundo o tribunal, foi encontrada dissimulada num
compartimento que apenas se destina a dar estabilidade ao navio.
Oficialmente, o cargueiro fez uma escala no
porto da Praia para cumprir os procedimentos legais relacionados com a morte de
um dos tripulantes, mas a PJ afirmou na altura que já tinha informações que se
tratava de uma embarcação suspeita.
A operação foi desenvolvida na sequência de um
processo de instrução resultante da troca de informação operacional com o
Maritime Analysis and Operations Centre – Narcotics (MAOC-N), com sede em
Lisboa.
FONTE: INFORPRESS