Acordo de livre comércio continental: Cabo Verde terá de investir na indústria e na agricultura – economista
O economista
José Agnelo Sanches considerou hoje que para Cabo Verde tirar o maior proveito
do Acordo de Livre Comércio Continental Africano (AfCFTA, na sigla em inglês)
terá de investir na indústria, na agricultura e no desenvolvimento de serviços.
José Agnelo Sanches, que falava à Inforpress
sobre o AfCFTA na Área de Livre Comércio Continental Africana (ALCCA) e que
entrou oficialmente em vigor na sexta-feira, 01 de Janeiro, afirmou que o país
terá de afirmar como uma economia nacional de utilidade pelo menos na região da
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
“Cabo Verde é um país muito pequeno que em
termos de comércio externo é um importador, não tem exportação, não tem
indústria e tem uma produção muito fraca e baixa. Para tirar proveito desse
acordo tem que desenvolver, investir na indústria, na agricultura, mas também
no desenvolvimento de serviços”, defendeu.
Face à pandemia da covid-19, sublinhou que a
economia cabo-verdiana passou por uma recessão profunda e terá de ter medidas
de relançamento da economia, realçando que este acordo é algo que sirva e
permita ao país trabalhar e tirar proveito no futuro.
“A preocupação de curto e médio prazo é de
recuperação económica e relançar os sectores da economia, nomeadamente o turismo
no contexto em que vamos desenvolvendo, ciente de que há algumas incertezas
quanto à pandemia e quanto às regras que devem ser seguidas”, constatou.
Por outro lado, sublinhou que o país tem que
voltar-se para dentro e analisar a questão da produção interna, investir muito
na sua vertente da indústria ligeira, sendo que dispõe de vantagens
comparativas que podem ser transformadas em vantagens competitivas e pode ainda
apostar na agricultura e economia azul para poder estar na senda da
competitividade.
No seu entender, para a economia cabo-verdiana
se tornar competitiva, é necessário investir muito forte na recuperação da
economia e no desenvolvimento dos sectores afins.
Para o economista, há uma grande expectativa em
relação a esse acordo no que diz respeito ao desvio do comércio para as outras
regiões do continente e a criação do comércio.
“Espera-se ainda a criação de empregos,
rendimentos para as pessoas e o Banco Mundial prevê alguma mudança em relação à
pobreza extrema”, referiu José Agnelo Sanches que considerou que o acordo em si
não representa nada se o continente não conseguir o desenvolvimento económico.
O acordo de trocas comerciais na ALCCA arrancou
oficialmente na sexta-feira, 01, culminando um período de mais de cinco anos de
negociações para reduzir ou eliminar as tarifas alfandegárias entre os países
africanos, num contexto de tensões comerciais em várias partes do mundo,
nomeadamente na Europa, onde o Reino Unido saiu da União Europeia e foi
implementado um acordo comercial pós-Bréxit.
O acordo, que dos 55 países africanos só não foi
assinado pela Eritreia, pretende eliminar ou reduzir as tarifas alfandegárias
na maior parte dos bens, facilitar o movimento de pessoas e de capital,
promover o investimento no continente e preparar o estabelecimento de uma união
aduaneira no continente, esperando-se que esteja completamente operacional em
2030, tornando a região na maior zona de comércio livre do mundo.
Entre os países lusófonos, só a Guiné-Bissau e
Moçambique não ratificaram o acordo de livre comércio no continente, que entrou
hoje em vigor, disse o coordenador do Centro de Política Comercial Africana na
Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA).
“A Guiné-Bissau e Moçambique assinaram o acordo
de adesão à ALCCA, mas ainda não o ratificaram”, disse David Luke em
declarações à Lusa a partir de Adis Abeba, a sede da União Africana.
“Angola, Cabo Verde, Guiné Equatorial e São Tomé
e Príncipe [os restantes países lusófonos do continente] ratificaram o acordo e
depositaram os instrumentos de ratificação junto da Comissão da União
Africana”, acrescentou aquele responsável, no dia em que entrou em vigor o
acordo de liberalização das tarifas alfandegárias que promete mudar a face das
economias africanas.
FONTE: INFORPRESS