A EXCLUSÃO DE SÃO VICENTE DO CAMPUS DA UNIVERSIDADE DE CABO VERDE É UMA AFRONTA À ILHA E AO SEU POVO
Notícia veiculada no jornal Expresso das Ilhas de 24 de Junho, dá
conta do lançamento da primeira pedra para a construção na cidade da
Praia do novo Campus da Universidade Pública de Cabo Verde, um projecto
estimado em cerca de 45 milhões de contos e totalmente financiado pelo
governo da China.
No entanto, e conforme declarações de um dirigente do PAICV, este Campus era para ser integralmente construído em S. Vicente, com intenção de beneficiar desta vez o norte do país, porquanto os seus financiadores entendiam que o sul já tinha sido objecto de um conjunto significativo de investimentos patrocinados pela China. Deduz-se assim que esta nação asiática não é insensível a que se observe uma lógica de equilíbrio territorial e de justiça distributiva na sua ajuda ao nosso país, ainda que, naturalmente, não queira imiscuir-se nos seus problemas internos. E foi nesse sentido que uma equipa de técnicos chegou, de facto, a deslocar-se a S. Vicente para estudo da localização da infra-estrutura. Porém, ao arrepio de tudo, o empreendimento viria a ser depois anunciado para a cidade da Praia, ainda no governo do PAICV, de nada tendo valido um protesto escrito apresentado ao primeiro-ministro pela estrutura daquele partido em S. Vicente.
O assunto foi habilidosamente silenciado até confirmar-se agora que a ilha de S. Vicente e o norte do país foram, efectivamente, e mais uma vez, marginalizados, espezinhados e espoliados em benefício da mesma ilha e cidade, persistindo os governos na sua injusta e inconcebível política centralizadora e concentradora.
Mas importante é sublinhar que o actual governo confirmou ipsis verbis essa decisão, quando natural seria que a revertesse, em coerência com as promessas eleitorais proferidas alto e bom som pelo seu líder no chão de S. Vicente e graças às quais obteve uma votação expressiva na ilha e venceu o pleito eleitoral com maioria absoluta. É que retinem ainda nos ouvidos do povo de S. Vicente, em particular, e dos cabo-verdianos, em geral, as promessas de Ulisses Correia e Silva de reabilitar o espírito de solidariedade nacional, promover a correcção dos desequilíbrios regionais e contribuir para a coesão entre os cabo-verdianos, mediante uma efectiva descentralização do poder e uma mais equânime distribuição dos recursos.
Sobram assim razões para acusar o actual primeiro-ministro de um comportamento político traiçoeiro, ardiloso e manobrista, ultrapassando o seu antecessor nas artes do ludíbrio e revelando-se afinal de contas um fiel executante das políticas que repudiamos, agindo contra o país integral e ameaçando perigosamente a coesão nacional. Na verdade, não surpreende esta sonegação de mais um investimento previsto para S. Vicente e o norte do território, porquanto desde a posse deste governo se vêm acumulando evidências a desmentir claramente a propaganda eleitoral com que o respectivo partido alcançou o poder. Se não vejamos:
− A primeira medida do governo foi firmar um acordo com o PAICV para a aprovação do Estatuto Especial para a Praia, como se isso fosse a mais gritante prioridade nacional;
− Na sua primeira visita a S. Vicente, a actual ministra do Ordenamento do Território e Habitação afirmou que “Cabo Verde não é só São Vicente e que se tem de partilhar os recursos para que todos tenham um pedaço justo”, causando espanto e indignação entre o povo da ilha, já que as suas palavras se ajustavam com geométrica precisão à ilha de Santiago e à capital do país e não à ilha visitada;