TACV entregue a privados: Grupo islândês assume gestão do negócio internacional da companhia nacional de bandeira
A TACV está finalmente transferida para privados. É que depois de o Governo de Ulisses Correia e Silva ter entregue os voos domésticos a Binter-CV a partir de 01 deste mês, o executivo cabo-verdiano celebrou, hoje (10), na Praia, o contrato de gestão com o Grupo Icelandiar, da Islândia, para preparar a companhia da Bandeira até à sua privatização.
O que se questiona é que, tudo está a ser feito às pressas e ninguém conhece os meandros de tais negócios entre o Estado e as duas empresas - Binter- CV e Grupo Icelandia.
Por ora, sabe-se apenas que o Grupo contratado não vai entrar com nenhum tostão na TACV-Internacional. Já o Estado de Cabo Verde vai ter que desembolsar pelo menos 925 mil euros no período de um ano que vigora o contrato aberto a renovação - 100 000 euros no primeiro mês e 75 000 euros para cada um dos 11 meses restantes.
Tendo em conta o controverso programa das privatizações da década de 90 - com destaque para o alegado desvio dos dois milhões de dólares da Enacol - várias entidades politicas e da sociedade dizem estar preocupadas com as suspeições sobre a falta da transferência no processo.
Mas as criticas têm surgido sobretudo da parte do maior partido da Oposição - PAICV. É que tanto a líder Janira Hopffer Almada como o Secretário-geral Julião Varela vêm alertando ( ver as últimas edições do Asemaonline) para o incumprimento das leis e falta da transparência na nova vaga da privatização de 23 empresas públicas anunciada recentemente pelo Governo.
Referindo-se ao acordo de hoje para a exploração da TACV-Internacional, Janira Hopffer Almada denuncia que as negociações que levaram à assinatura do contrato com a Loftleidir Icelandic, que pertence ao Icelandair Group, decorreu de forma muito secreta, pelo que “tudo indica que há grupos económicos que estão a ser protegidos”.
“Os interesses do país não estão a ser salvaguardados e, por essa razão, o Governo não está a falar claro aos cabo-verdianos”, afirmou a líder do principal partido da oposição citada pelo Inforpress, que acusa ainda o executivo de Ulisses Correia e Silva de não esclarecer aos cabo-verdianos sobre o que vão ganhar com tais medidas.
Por sua vez, falando sobre a opção do grupo Icelandair para gestão da TACV, Ulisses Correia e Silva esclareceu, durante a cerimonia da assinatura do acordo, que o Governo escolheu “o melhor parceiro” para dotar a companhia nacional de uma gestão de excelência e realizar o conceito de “hub” aéreo. “Só assim conseguiremos dotar o país de um hub de referência internacional que contribua para a dinamização da economia, acelerar o crescimento e criar empregos de qualidade”, notou, indicando que para o efeito há que ter parcerias e “excelência” em tudo que diz respeito à aviação civil.
Além da transformação da TACV numa companhia competitiva para entrar num mundo extremamente competitivo, o Governo, segundo o PM, também vai privatizar a Cabo Verde Handling e concessionar o serviço de gestão aeroportuária da ASA. Garantiu que vai respeitar os direitos os trabalhares.
Contrato de gestão com o Grupo Icelandair
O grupo Icelandair, da Islândia, assume a partir de segunda-feira a gestão do negócio internacional da companhia aérea pública cabo-verdiana TACV, que vai custar ao Estado cabo-verdiano 925 mil euros e visa preparar a empresa para a privatização.
Segundo a Lusa, o contrato de gestão da TACV Internacional foi assinado hoje, na cidade da Praia, pelos ministros cabo-verdianos das Finanças, Olavo Correia, e da Economia, José Gonçalves, pelo presidente e Administrador Executivo da TACV, José Luís Sá Nogueira e Armindo Sousa, respetivamente, e pelo vice-presidente da Loftleider Icelandic, pertencente ao grupo Icelandair, Erlendur Svavarsson.
O ministro da Economia informou, diz a mesma fonte, que o Plano de Negócios começa a ser executado na próxima segunda-feira e a base aérea será na ilha do Sal, que tem um aeroporto com melhores condições e com espaço para expansão.
José Gonçalves indicou que a Icelandair vai reforçar a frota internacional da TACV com mais dois aviões, aumentando para cinco até final do próximo ano e 11 dentro de três anos.
Neste momento, o ministro disse que o grupo islandês não entra com capital na TACV, mas sim a prestar um serviço de gestão com vista à privatização do negócio internacional, cujo decreto-lei já foi aprovado pelo Conselho de Ministros.
Dizendo que a Icelandair pode vir a ser um dos "parceiros estratégicos" para a privatização da TACV Internacional, e depois, sim, entrar com capital, José Gonçalves salientou que isso será feito num "quadro jurídico estabelecido pela lei".
Conforme ainda a Lusa, o contrato de gestão terá a duração de um ano, renovável por igual período, caso a privatização não acontecer antes.
Quanto ao Governo de Cabo Verde, o ministro informou que entrará com 100 mil euros no primeiro mês e 75 mil euros por mês durante o período em que a Icelandair vai gerir a empresa, o que dá um total de 825 mil euros em 11 meses e 925 mil euros no total.
Considerando que se trata de um "acordo estruturante", José Gonçalves sublinhou que o objetivo do Governo é fazer a reestruturação da TACV e coloca-la na "dimensão certa" para a venda e transformar Cabo Verde numa plataforma de prestação de serviços aéreo no atlântico.
O vice-presidente da Loftleider Icelandic, pertencente ao grupo Icelandair, Erlendur Svavarsson, disse que o contrato é uma "grande oportunidade" para, além de mais aviões, o grupo trazer conhecimento e experiência da aviação para Cabo Verde.
O grupo, com mais de 80 anos de história, pretende também aumentar a conectividade do país com o mundo e trazer mais turistas param o arquipélago africano.
Para já, José Luís Sá Nogueira vai continuar como presidente do Conselho de Administração da TACV, mas a Icelandair vai ter um administrador delegado em Cabo Verde, que será o português Mário Chaves.
Em declarações aos jornalistas, Mário Chaves, que depois vai assumir a administração executiva, disse que a Icelandair vai introduzir um novo modelo, que terá oportunidades para expandir e ligar Cabo Verde aos quatro continentes, trazer crescimento e emprego ao país.
O responsável não fala sobre a futura privatização da TACV nem dos custos da operação para a Icelandair, dizendo que, para já, a ideia é concentrar nos fluxos com Europa, África e Américas.
Mário Chaves avançou que as alterações na gestão da TACV terão impacto e passarão, por exemplo, pelas vendas, onde a companhia quer ser competitiva e continuar a ser uma referência.
O administrador delegado disse também que a Icelandair vai ajudar o Governo cabo-verdiano a procurar uma solução para a dívida da TACV, que ascende a 100 milhões de euros.
A assinatura do acordo de gestão da TACV Internacional foi presenciada por diversas personalidades da sociedade cabo-verdiana, entre elas o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que considerou que a Icelandair é o "melhor parceiro" para um "negócio credível".
A partir de agora, Ulisses Correia e Silva espera potenciar o turismo entre Cabo Verde e o norte da Europa, lembrando, para isso, a medida governamental de isentar de vistos os cidadãos da União Europeia e do Reino Unido.
A gestão - e futura privatização do negócio internacional da TACV - é outro ponto da reestruturação da TACV, depois da atribuição dos voos domésticos em exclusivo à Binter Cabo Verde, em cujo capital o Estado cabo-verdiano entrará com 49%.
O fim das operações domésticas levou os trabalhadores a realizarem uma manifestação na cidade da Praia para exigir informação quanto a despedimentos, indemnizações e também como será feita a incorporação de boa parte na Binter.
O presidente do Conselho de Administração disse que a reestruturação vai implicar o despedimento de cerca de 260 pessoas, o equivalente a cerca de metade do efetivo de trabalhadores.
Apesar de salientar a necessidade de reduzir os custos e de procurar uma solução para as dívidas, o primeiro-ministro reafirmou hoje que todos os direitos dos trabalhadores serão salvaguardados com a reestruturação da TACV.
O Governo já avançou também que está a preparar uma linha de crédito e um fundo para ajudar os trabalhadores com maiores dificuldades a reintegrarem-se no mercado de trabalho. C/ Lusa