Brava e falta de ligação marítima: População convoca manifestação de protesto esta sexta-feira contra isolamento da ilha
Depois dos recentes protestos promovidos pelo Movimento Cívico Sokols em S.Vicente, o governo do MpD está, segundo admitem analistas atentos, na iminência de receber mais uma cartão amarelo esta semana. É que um grupo de cidadãos da Brava convoca, a partir das redes sociais, a população para uma manifestação de protesto, esta sexta-feira,15. Com isso, os organizadores querem mostrar o seu descontentamento ao Governo de Ulisses Correia e Silva, face ao isolamento em que a ilha foi votada nos últimos dias. Em causa está a suspensão da ligação marítima de e para a Brava, devido à inoperacionalidade dos dois navios da Cabo Verde Fast Ferry. O caso já se transformou num facto político nacional, com o PAICV (oposição) e MpD (poder) a se posicionarem publicamente sobre a situação (ver este jornal).
A organização informa que essa marcha de protesto começa, a partir das 15H00, com uma concentração na Praça Eugénio Tavares, na Cidade de Nova Cintra.
Apesar de ter sido convocada através das redes sociais, o Asemanaonline está em condições de avançar que a iniciativa está a ser aguardada com alguma expectativa pela população, principalmente entre operadores económicos e jovens.
Segundo fontes locais, os promotores dessa manifestação popular de protesto dizem esperar a particpçao e solidariedade de todos, principalmente dos mais afectados com o isolamento da Ilha das Flores.
Diante dos descontentamentos surgidos com esta falta da ligação marítima de e para Brava, residentes apelam à participação de todos na marcha desta sexta-feira. Tudo, conforme apelam, por forma a alertar as autoridades locais (Câmara) e o Governo de Ulisses Correia e Silva, em particular, perante a grave situação de abandono em que a ilha se encontra neste momento.
Para a organização, está manifestação de pretestos não pode ser vista de forma isolada, por reflectir o país que temos neste momento, funcionado a duas velocidades.“A manifestação desta sexta-feira é muito mais profunda, pois é o reflexo do país desequilibrado que temos - anda a duas velocidades-,onde a ilha Brava se sente marginalizada, isolada e abandonada”, avança aos órgãos da imprensa um dos promotores da marcha de protestos.
Alerta e crise no sector dos transportes
No entender de analistas atentos, o protesto desta semana na Brava pode constituir mais um cartão amarelo ao governo do MpD. Isto depois da manifestação de 5 de Julho, no Mindelo, e do recente bloqueio à comitiva do Primeiro-ministro à entrada da cidade do Mindelo, que foram promovidos pelo Movimento Cívico Sokols, com sede em S.Vicente.
Para outras fontes, a manifestação da Brava tem, por outro lado, a ver com a grave crise por que passa, neste momento, o sector dos transportes em Cabo Verde - TACV e Binter-CV enfrentam grandes dificuldades em fazer escoar os passageiros internacionais e domésticos nos seus respectivos aviões nesta época alto do ano.
Conforme tinha avançado este diário na sua edição de ontem, a mais afectada com esta situação está a ser a Brava - uma das duas ilhas do país que, desde há muitos anos, não tem aeródromo operacional por falta das condições naturais - cujo isolamento por suspensão da ligação marítima - já dura cerca de uma semana - vem sendo minimizado neste momento com a entrada de um barco de pesca na mesma rota.
Segundo apurou o Asemanaonline, "Lua" é o nome da embarcação de pesca que tem vindo a transportar pessoas na rota Brava-Fogo-Brava. Tudo com o objectivo de não deixar a Ilha das Flores isolada, por causa da paragem temporária dos dois navios da CV Fast Farry. É que o “Liberdadi” encontra-se retido, há já alguns dias, no Porto da Praia para manutenção. Já o Kriola encontra-se meses em reparação nos Estaleiros Navais da Cabnave, em S.Vicente.
Enquanto isso, o Conselho da Administração da Fast Farry promete fazer tudo para normalizar a situação “no mais curto espaço de tempo” o que passa pela mobilização de uma embarcação para substituir os dois navios», soube o ASemanaonline junto de uma fonte próxima da empresa.
Na última quarta-feira, 13, a pequena embarcação de pesca voltou a “prestar socorro”, a cerca de uma dezena de pessoas, fazendo a ligação entre Brava e Fogo. Fez transporte principalmente dos emigrantes que têm as suas viagens marcadas para estes dias.
Jorge Andrade (Djodje), pescador, é o proprietário do pequeno barco que vem realizando «essa travessia de socorro no canal Fogo-Brava». À chegada ao Porto de Vale dos Cavaleiros, em São Filipe, falou ao asemanaonline, garantindo que a viagem tem estado a decorrer na normalidade. Nesta viagem de da ultima quarta-feira, chegou uma mulher, que por medo de perder o seu trabalho em Portugal, teve que arriscar, fazendo a travessia do canal.
Em relação aos custos, aquele proprietário do barco explicou que, normalmente, as deslocações entre Brava e Fogo ou vice-versa, custa o valor de 25 mil escudos. “O preço depende de pessoas ou grupo de pessoas e suas possibilidades. Muitas das vezes transportámos pessoas sem qualquer custo. O prazer de fazer isso disso é não deixar a ilha Brava no isolamento, socorrendo pessoas da minha terra natal”,avança.
Mesmo assim, são centenas de passageiros e toneladas de cargas que continuam retidos há vários dias na Ilha das Flores. Aflitos, os donos dizem-se abandonados à sua sorte nessa ilha mais a sul de Cabo Verde.
Conforme apurou a nossa reportagem no local, vive-se uma situação idêntica no Fogo: centenas de passageiros e toneladas de cargas estão impedidos de seguir a viagem na mesma rota. Há também passageiros retidos na Praia, que continuam à espera do mesmo navio para seguirem rumo ao Fogo e Brava.