Iraque à beira de novo conflito após vitória do "sim" no Curdistão
A tensão aumenta a cada minuto entre o Curdistão iraquiano e a autoridade central de Bagdade, após o anúncio da vitória anunciada e inequívoca do "sim" no referendo independentista realizado segunda-feira, 25 de setembro.
Esta quinta-feira, centenas de pessoas procuravam sair da capital regional, Erbil, depois do anúncio do encerramento do espaço aéreo do Curdistão por parte de Bagdade, a partir de sexta-feira.
Muitos estrangeiros que trabalham no Curdistão iraquiano, em empresas e
ONG, agências diplomáticas ou de auxílio humanitário, estão a tentar
sair da zona para não ficarem encurralados, já que estão na região com
vistos emitidos pelas autoridades curdas e não reconhecidos por Bagdade.
O encerramento das fronteiras, com a consequente suspensão da passagem
terrestre de bens comerciais, assim como o controlo do espaço aéreo, são
as primeiras armas a que Bagdade pretende recorrer para isolar e
pressionar as autoridades da região, até agora autónoma, do Curdistão
iraquiano.
Os deputados iraquianos pediram ainda ao Governo de Bagdade para
garantir o controlo dos poços de petróleo do Curdistão, uma das maiores
fontes de riqueza do país.
'Sim' venceu com 92,73%
Horas antes do anúncio oficial dos resultados do referendo, o
primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, deu o mote para o que se
poderá seguir, exigindo a anulação dos resultados antes de encetar
qualquer diálogo "no quadro da Constituição".
"Nunca discutiremos o resultado" do escrutínio, preveniu Haider al-Abadi
diante dos deputados na Assembleia Parlamentar do Iraque. "Iremos impor
a lei iraquiana em toda a região do Curdistão", prometeu logo depois e
abrindo a porta a uma possível intervenção musculada, que poderá incluir
a cooperação entre os exércitos da Turquia, do Irão e do Iraque.
Os resultados oficiais do referendo foram divulgados quarta-feira ao fim
da tarde. "Em 3.305.925 eleitores, o 'sim' obteve 92,73 por cento"
anunciou a comissão eleitoral do Curdistão, lembrando ainda que a
participação foi de 72,16 por cento.
Não houve ainda nenhuma declaração de independência por parte das
autoridades curdas iraquianas, que se limitaram a negar a anulação do
referendo, propondo em vez disso a colocação de observadores iraquianos
nos aeroportos curdos.
Interdição de voos
Quinta-feira de manhã, Bagdade ainda não tinha reagido aos resultados.
Já tinha contudo intimado as autoridades curdas a remeter para as
autoridades centrais, até sexta-feira dia 29, os aeroportos
internacionais de Erbil e de Sulaymaniyah