Banco Mundial adverte a respeito da “crise da aprendizagem” na educação global
Milhões de jovens estudantes de países de renda baixa e média enfrentam a perspectiva de oportunidade perdida e salários mais baixos e mais tarde, porque suas escolas de ensino fundamental e médio não os estão educando para serem bem-sucedidos na vida. Ao alertar para uma “crise de aprendizagem” na educação global, um novo relatório do Banco Mundial (BM) afirma que a escolarização sem aprendizagem não foi apenas uma oportunidade de desenvolvimento perdida, mas também uma grande injustiça para as crianças e jovens do mundo inteiro.
O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2018: Aprendizagem para Realizar a Promessa da Educação, argumenta que sem a aprendizagem a educação não cumprirá sua promessa de eliminar a pobreza extrema e criar oportunidade e prosperidade compartilhadas para todos.
Segundo o documento, mesmo após vários anos de escolarização, milhões de crianças não sabem ler, escrever ou aritmética básica. “Essa crise de aprendizagem está ampliando as lacunas sociais em vez de estreitá-las. Jovens estudantes – já em posição de desvantagem devido à pobreza, conflito, género ou deficiência – chegam à idade adulta sem as aptidões mais básicas para a vida”, refere o relatório.
O relatório recomenda medidas de políticas concretas para ajudar os países em desenvolvimento a solucionarem essa crise calamitosa de aprendizagem nas áreas de avaliações mais sólidas da aprendizagem, utilizando evidência do que funciona e não funciona na orientação da tomada de decisões em matéria de educação; e mobilização de um forte movimento social para impulsionar mudanças na educação, cujo lema seja “aprender para todos”.
Segundo o relatório, no Quênia, Tanzânia e Uganda, quando se pediu aos alunos da terceira série do ensino fundamental que lessem em inglês uma frase simples como “o nome do cão é Filhote”, 75% deles não compreenderam seu significado. Na zona rural da Índia cerca de 75% dos alunos da terceira série não foram capazes de fazer uma subtração de dois dígitos, como por exemplo, 46 – 17 – e na quinta série a metade ainda não conseguia fazer essa operação. Embora as aptidões de jovens brasileiros de 15 anos tenham melhorado, se eles continuarem a progredir ao ritmo atual levarão 75 anos para atingir a pontuação média dos países ricos. No campo da leitura levarão 263 anos.
Estas estatísticas não levam em conta 260 milhões de crianças que, por motivo de conflito, discriminação, deficiência e outros obstáculos não estão matriculadas no ensino fundamental ou médio.
Embora nem todos os países em desenvolvimento sofram de tais lacunas extremas na aprendizagem, muitos estão muito aquém dos níveis a que aspiram. As principais avaliações de alfabetização e aritmética mostram que nos países pobres o estudante médio tem um desempenho abaixo de 95% dos estudantes nos países de alta renda – significando que nesses países tal estudante seria alvo de atenção correctiva em sala de aula. Muitos estudantes de alto desempenho nos países de renda média – jovens, tanto homens como mulheres que se enquadram no quartil superior de seus grupos – se classificariam no quartil inferior em um país mais rico.
O relatório, preparado por uma equipe dirigida por Deon Filmer e Halsey Rogers, economistas principais do Banco Mundial, identifica o que provoca essas deficiências na aprendizagem – não somente as formas como o ensino e a aprendizagem se dividem em um número demasiadamente elevado de escolas, mas também as forças políticas profundas que causam a persistência desses problemas.
Baseando-se na evidência e assessoria obtida durante consultas extensas em 20 países a governos, organizações desenvolvimento e pesquisas, organizações da sociedade civil (OSCs’) e sector privado, o relatório oferece três recomendações de políticas:
Primeiro, avaliar a aprendizagem para que se torne uma meta verificável. Somente metade dos países em desenvolvimento têm dispositivos para medir a aprendizagem no final do ensino fundamental e das primeiras séries do ensino médio. Avaliações bem estruturadas dos estudantes podem ajudar os professores a orientar os alunos, melhorar a gestão do sistema e focar a atenção da sociedade na aprendizagem. Essas medidas podem informar escolhas de políticas nacionais, acompanhar o progresso e enfocar crianças deixadas para trás.
Segundo, fazer as escolas trabalharem para todas as crianças. Nivelar o campo de ação reduzindo a atrofia e promovendo o desenvolvimento cerebral por meio da nutrição antecipada e do estímulo de forma que as crianças comecem a escola prontas para aprender. Atrair ao magistério pessoas excelentes e mantê-las motivadas adaptando um treinamento de professores reforçado por mentores. Utilizar tecnologias que ajudem os professores a ensinar no nível do estudante e reforçar a direção a escola, incluindo os diretores.
Terceiro, mobilizar todas as pessoas interessadas na aprendizagem. Aplicar a informação e medições para mobilizar cidadãos, aumentar a responsabilização e criar a vontade política de uma reforma da educação. Envolver pessoas interessadas, inclusive a comunidade empresarial, em todas as etapas da reforma da educação, do desenho à implementação.