Banco Mundial alerta: Cabo Verde está a perder terreno para outros países de Rendimento médio
Cabo Verde continua a ser «uma estrela» do desenvolvimento quando comparado com África, «mas está a perder terreno relativamente a países semelhantes como as Maurícias e as Seicheles», defenderam, na cidade da Praia, técnicos do Banco Mundial (BM) na sua mais recente visita ao país que terminou nos últimos dias do mês de Outubro.
Conforme a Lusa, Rohan Longmore e Rob Swinkles integram uma missão de 12 técnicos do BM, que durante esta semana estão em Cabo Verde para identificar os constrangimentos ao desenvolvimento e fazer o diagnóstico com vista à preparação do programa de apoio nos próximos anos.
Os dois técnicos apresentaram algumas das linhas do Systematic Country Diagnostic (SCD) e, ao longo da semana, a equipa, liderada pela diretora do BM para Cabo Verde, Louise Cord, irá recolher contribuições do Governo, setor privado, municípios e organizações não-governamentais.
Os técnicos registaram um abrandamento do crescimento desde a crise financeira de 2008, sublinhando que o crescimento alcançado [entre 1,5 e 3%] resultou, sobretudo, da acumulação de capital e que a produtividade sofreu um declínio.
«O maior crescimento vem do setor público e o setor privado não tem um papel significativo», destacou Rohan Longmore, indicando uma lista de constrangimentos ao investimento identificados.
Acesso ao financiamento, impostos, ineficácia da administração e burocracia, leis laborais, educação e formação inadequada da força laboral foram alguns dos constrangimentos identificados.
«A qualidade das infraestruturas, nomeadamente de transportes, comércio e logística em Cabo Verde, está abaixo da de alguns países semelhantes», apontou o BM, manifestando-se «preocupado» também com a dimensão e eficiência da administração pública.
«A eficiência da administração pública está a declinar, comparando com as Seicheles e as Maurícias, o que é surpreendente atendendo aos restantes indicadores», juntou Rohan Longmore.
Os técnicos do BM apontaram ainda a insuficiência de dados para avaliar os impactos do desenvolvimento na redução da pobreza, que continuou a descer, mais nas zonas rurais do que nas urbanas.
«Depois de tantos anos a gastar dinheiro em programas sociais não sabemos quão efetivos foram porque há muito poucos dados», disse Rob Swinkles.
O técnico do BM assinalou também que a dívida pública disparou, situando-se acima dos 120%, e está a impedir de se tornar «resiliente aos choques económicos».
O ministro das Finanças, Olavo Correia, disse, por seu lado, que a avaliação do BM «permitirá ter uma perspetiva sobre a situação do país, o caminho definido pelo Governo e os constrangimentos a remover para que Cabo Verde possa crescer ao nível pretendido e necessário».
O Banco Mundial aprovou um novo programa de apoio, através de empréstimos concessionais, de 82 milhões de euros a Cabo Verde.
A aplicar nos próximos três anos, o programa irá centrar-se no reforço da resiliência, proteção social, promoção de uma economia orientada para os serviços, educação e reestruturação de empresas públicas, nomeadamente a companhia aérea pública TACV. C/ a Lusa