Hospital da Praia: Doentes de oncologia e diálise reclamam melhores condições de vida e de tratamento
Os doentes de oncologia e da diálise, evacuados para a Cidade da Praia para efeitos de continuidade de terapia, estão a reclamar por melhores condições de vida e de tratamento que lhes permitam “viver com dignidade, apesar da doença”.
Em declarações à Inforpress, os doentes evacuados de outras ilhas e que estão a receber tratamento de oncologia e de diálise no Hospital Dr. Agostinho Neto, denunciaram a situação por que passam longe das suas casas, na esperança de recuperar a saúde.
Joana é proveniente da ilha da Boa Vista e tem estado a receber tratamento em quimioterapia no Serviço de Oncologia no Hospital Dr. Agostinho Neto, na Praia. Contou à Inforpress que devido a dificuldades financeiras tem passado por “momentos difíceis” da sua vida.
“Fui evacuada da Boa Vista para Praia, mas para seguir este tratamento perdi o meu trabalho e agora vivo em péssimas condições, pois, não tenho aqui familiares. Como o meu tratamento é periódico, acabei por ficar cá, mas o apoio financeiro que recebo não dá para pagar a renda, alimentar-me e comparar medicamentos que não são cobertos pelo INPS”, disse.
Conforme explicou, no início era muito mais fácil porque o hospital não cobrava os exames e alguns medicamentos destinados aos doentes em tratamento, mas agora a situação ficou mais difícil porque o hospital da Praia passou a cobrar os exames.
Segundo Joana, a médica especialista em oncologia, Herondina Borges, apelou ao bom senso dos responsáveis face à situação dos doentes oncológicos, no sentido de não pagarem exames que têm de fazer periodicamente, mas até agora nada foi feito.
“Desta forma, convivemos com a doença e dificuldades financeiras para podermos seguir um tratamento que exige muito do doente. Em países como Portugal o tratamento dos doentes oncológicos é suportado pelo Governo, não entendo porque é que em Cabo Verde é diferente”, questionou.
Tal como Joana, outros doentes evacuados para a Cidade da Praia estão a passar pelo mesmo problema, razão por que apelam para a criação de melhores condições e cuidados de tratamento para os doentes oncológicos, sobretudo aqueles que recebem quimioterapia.
Nesse sentido, solicitam o Governo a estabelecer também o tratamento em radioterapia porque, conforme explicam, depois da quimioterapia muitos necessitam seguir um tratamento de radioterapia, mas não conseguem fazê-lo porque o mesmo não existe ainda em Cabo Verde.
Este rosário de reclamações faz eco também junto dos doentes que recebem tratamento da diálise. Segundo dizem, fazem da voz dos colegas de oncologia, a deles também, apesar de se tratar de dois serviços diferentes, “mas o mesmo sofrimento”.
A esse propósito, a médica especialista em oncologia, Herondina Borges, informou à Inforpress que os evacuados de outras ilhas, normalmente estão sob a responsabilidade do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social) ou da Promoção Social.
“Normalmente os doentes evacuados não pagam o tratamento da quimioterapia, mas os doentes em seguimento têm às vezes de tomar medicamentos de reposição normal e contra dores. Na compra destes medicamentos os doentes podem ter alguns constrangimentos, pois, não são comparticipados pelo INPS”, informou.
Segundo Herondina Borges, os doentes em seguimento antes não pagavam as taxas moderadoras, mas hoje, devido a uma nova norma do hospital, são obrigados a fazê-lo.
Administração do HAN esclarece
Por sua vez, o presidente do Conselho de Administração do Hospital Agostinho Neto (HAN), Júlio Andrade, disse à Inforpress que tanto o Centro Nacional de Diálise como o Hospital do Dia para tratamento de oncologia, são serviços afectos ao Serviço Nacional de Saúde, que se encontram alojados no Hospital Dr. Agostinho Neto.
De acordo com o gestor do HAN, este estabelecimento vem suportando o custo de funcionamento destas estruturas, excepto as sessões de diálise, e sem qualquer contrapartida financeira, o que redonda num acréscimo de responsabilidade financeira ao hospital.
“A diálise é um serviço novo que teria de ter a sua autonomia financeira para o seu financiamento, não pondo em causa os departamentos que já estão consolidados como a de genecologia obstetrícia, traumatologia e outros”, disse, sublinhando por outro lado, que o mesmo se pode aplicar ao serviço de oncologia que deveria ter um orçamento e um quadro próprios.
“Isso traz-nos dificuldades para outros sectores. Mas em relação à diálise temos dois nefrologistas, duas internistas, 18 enfermeiros, quatro técnicos de manutenção dos equipamentos, e todos fizeram formação na área”, acrescentou.
Júlio Andrade reconhece haver um défice no Serviço de Oncologia e é de opinião que o centro deve avançar com o tratamento de radioterapia e não ficar apenas com a quimioterapia.
“Falta avançar com a radioterapia, assim como um conjunto de outros aspectos funcionais nos serviços, que estamos a tentar avançar, em vista a prestar melhores condições de serviço aos doentes oncológicos”, indicou.
Segundo Júlio Andrade, além da exigência de uma enfermaria própria para doentes oncológicos, existem ainda outros aspectos que merecem ser melhorados no âmbito da prestação do serviço, mas que só terão cabimento dentro do plano director do hospital, a ser implementado posteriormente.
A esse respeito, avançou que já foram feitas propostas de se iniciar algumas etapas do plano director do hospital, definido para execução em sete fases, comtemplando também a parte da oncologia.
Mais de 110 mil urgências por ano
Conforme explicou, num estabelecimento hospitalar onde a demanda atinge anualmente 110 mil urgências, quatro mil a cinco mil partos, mais de sete mil cirurgias, 550 mil exames laboratoriais, 64 mil exames imagiológico, “é de todo evidente que não se pode agradar a todos”, enfatizou.
Contudo, Júlio Andrade promete que a equipa do HAN vai corrigir os pontos fracos, tanto do ponto de vista estrutural como organizacional e em termos de equipamentos.
Realçou, entretanto, que o Hospital do Dia, foi inaugurado em Agosto de 2012 e o Centro de Diálise em Julho de 2014.