Turquia anuncia abertura de embaixada em Jerusalém oriental
Erdoğan, dirigindo-se aos membros do seu partido (AK), na província de
Karaman, no sul da Turquia, lembrou que o consultado geral turco em
Jerusalém já se encontra no sector oriental da cidade e que já é neste
momento chefiado por um embaixador. E, segundo citação do diário turco Hurryiet, acrescentou: "Se Deus quiser, estará próximo o dia em que, com a autorização de Deus, abriremos aí a nossa embaixada".
A forma condicional do anúncio, sempre sujeita a referendo divino, tem
que ver com uma realidade incontornável: aquele território encontra-se
ocupado por tropas israelitas há mais de meio século, tendo sido
entretanto objecto de uma anexação que a comunidade internacional não
reconhece e que só nos últimos dias pareceu marcar alguns pontos devido
ao controverso anúncio norte-americano, no sentido de transferir a
respectiva embaixada para Jerusalém, provavelmente dentro de três anos.
Na quarta-feira passada, a conferência de países islâmicos em grande
parte impulsionada pelo Governo de Ankara concluiu-se com um comunicado,
afirmando que o reconhecimento de Jerusalém como capital israelita por
parte do presidente Trump equivalia à renúncia ao papel de mediador de
conversações de paz que os ÊUA até aqui pretenderam assumir.
O comunicado vinha assim subscrever a reacção do presidente da
Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, que afirmara isso mesmo poucos
dias antes. Os subscritores eram meia centena de Estados de maioria
muçulmana, incluindo alguns tradicionalmente considerados muito próximos
dos EUA. A Arábia Saudita, uma das poucas excepções, brilhou pela
ausência, que mais destacou o seu isolamento actual.
Agora, no discurso de Karaman, Erdoğan desenvolveu as implicações e
significado político da anunciada transferência da embaixada: "Trump
declarou Jerusalém como capital de Israel, com um entendimento
evangelista e sionista, e com a lógica: 'Já fiz e agora acabou-se'. Os
EUA vão mudar para lá a sua embaixada. Os que decidiram dar este passo,
apesar das decisões da ONU, fizeram-no com a lógica 'Não vos
reconhecemos' [à Autoridade Palestiniana]. Bom, nós também não vos
reconhecemos".
Também neste aspecto do discurso, Erdoğan se mostrava sintonizado com
Abbas, que apelara a que o mundo retirasse ao Estado de Israel o
reconhecimento que tem vindo tornar-se mais alargado e consensual desde
os Acordos de Oslo.
Antecipando aparentemente o impedimento físico que a potência ocupante
pode organizar contra a transferência da embaixada, Erdoğan advertiu
também: "Não tentem realizar uma operação sionista. Se o fizerem, o
custo será pesado".
Sublinhou, além disso a prontidão com que a maioria dos países de
maioria muçulmana respondera ao seu apelo para a reunião extraordinária
do passado dia 13 de dezembro: "Numa semana, vieram todos". E
acrescentou: "Também falei pelo telefone com o papa [Francisco] e
verifiquei que ele tem a mesma opinião que nós".
No discurso de Karaman, Erdoğan exibiu uma fotografia viral de soldados
israelitas detendo Mohamed al-Taweel, um rapaz palestiniano de 14 anos,
portador do síndorma de Down, e comentou: "Estes são cobardes que têm
medo do síndroma das crianças. América, Trump: Vocês não viram isto?
Vocês podem dizer: 'Sou o pais mais poderoso do mundo'. Mas o que é que o
mundo está a dizer aos EUA? Está a dizer-lhes: 'Vocês não deviam ter
armas com ogivas nucleares, e têm-nas'. Isto é que é justiça? Vamos
tomar este assunto nas nossas mãos. Há agora dois caminhos perante nós:
ou nos submetemos ou lutamos".
Na mesma reunião, falou também o primeiro-ministro Binali Yıldırım e
referiu-se ao "erro de cálculo" de Trump, ao reconhecer Jerusalém como
capital de Israel: "Os que cometeram o erro de cálculo sobre Jerusalém
nesta região, vão acabar por lamentá-lo".