Trump estreia-se nos discursos do Estado da União
Agendado este ano para as 09h00 (14h00 em Lisboa), o discurso do Estado
da União é um antigo ritual da política norte-americana, cuja realização
está inscrita na Constituição, onde se escreve que o Presidente deverá,
“de tempos em tempos, prestar informação ao Congresso sobre o Estado da
União, e recomendar à sua consideração as medidas que julgue
necessárias e oportunas”.
O Presidente Thomas Jefferson (na Casa Branca entre 1801 e 1809),
conhecido por ser um mau orador, entregava ao Congresso discursos apenas
por escrito, enquanto Woodrow Wilson (1913 a 1921) retomou os discursos
ao vivo. Ronald Reagan aproveitou o impacto do discurso televisionado
para mostrar os convidados especiais entre a assistência.
Trump, uma antiga estrela do 'reality-show' norte-americano “The
Apprentice” e um homem habituado aos holofotes da televisão, poderá ter
reservada uma surpresa que baralhe a tradição e deixe um cunho próprio
no seu primeiro Estado da União.
Esta não é a primeira vez que Trump discursa perante os Congressistas:
já o tinha feito a 28 de fevereiro de 2017, oito dias depois da sua
tomada de posse, mas desta vez o Presidente apresenta-se perante os
congressistas e o país com valores historicamente baixos de
popularidade.
Uma média de sondagens feito pela FiveThirtyEight indica que 39% dos
eleitores aprovam o trabalho de Trump, contra 56% que não aprovam, uma
taxa de aprovação bastante abaixo da que exibiam os seus antecessores
com um ano de Presidência.
Um ano depois de tomar posse, o democrata Barack Obama tinha uma taxa de
aprovação de 49,4%, o republicano George W. Bush tinha 78,6% de
aprovação e Bill Clinton 54,4%.
No último ano Trump especializou-se em surpreender os analistas sobre o
previsível conteúdo das suas mensagens ao país, pelo que não é claro,
neste momento, qual será o principal tema do seu primeiro Estado da
União.
No entanto, é provável que Trump fale – principalmente para elogiar – do
pacote fiscal, a principal medida legislativa que conseguiu fazer
passar no Congresso. Em Davos, na semana passada, enalteceu a sua
própria medida e, apoiando-se nela, gabou-se do bom desempenho da
economia americana e dos mercados acionistas desde que está em funções.
O desemprego nos EUA está em valores historicamente baixos, o PIB
cresceu 2,3% (contra os 1,5 % em 2016) – ainda assim, abaixo das
expectativas – e os mercados batem recordes todas as semanas.
A mensagem de Trump aos líderes da economia e da política em Davos
visava atrair o investimento estrangeiro, mas frente aos Congressistas o
objetivo passará por angariar capital político por estes números.
Trump também poderá dar mais detalhes sobre o investimento público em
infraestruturas, uma área para a qual – ainda em campanha - prometeu um
trilião de dólares.
Na semana passada, a imprensa norte-americana noticiou uma proposta da
Casa Branca sobre o investimento público e o próprio Trump disse a um
conjunto de presidentes de câmara que “provavelmente [o plano de
investimento] chegará aos 1,7 triliões de dólares”.
O Presidente poderá ainda focar – ou ser forçado a abordar – o tema da
imigração, que esteve por detrás do ‘shutdown’ do Governo Federal e
continua a ser a principal “arma de arremesso” entre Republicanos,
Democratas e a Casa Branca.
Os Democratas estão a tentar por todas as vias forçar os Republicanos e a
administração Trump a aceitar alterações legislativas para salvar o
programa que protege da deportação cerca de 700 mil imigrantes sem
documentos que chegaram aos Estados Unidos enquanto crianças, conhecidos
como “Dreamers’ (Sonhadores).
Mais de 500 portugueses são ‘Dreamers’ e correm risco de deportação
desde que Trump decidiu acabar com o programa DACA, criado por Obama.
Conscientes de que poderá ser um tema quente, os Democratas já
anunciaram que convidaram ‘Dreamers’ para as galerias do Congresso.
O próprio Trump também já afirmou que pretende fazer um remendo no DACA,
mas exige concessões dos democratas, sobretudo sob a forma de
financiamento para a construção do Muro na fronteira com o México.
Os representantes Democratas também poderão puxar pelo escândalo do
assédio sexual, um tema que se colou a Trump durante a campanha e do
qual nunca se livrou na totalidade.
Muitas congressistas democratas pretendem mesmo apresentar-se vestidas
de negro no Estado da União, em sinal de reconhecimento pelas revelações
feitas por atrizes em Hollywood e noutros setores, como o da política e
o desporto.
O representante Joe Kennedy foi o escolhido pelos Democratas para fazer a réplica ao discurso do Estado da União de Trump.
“Enquanto o Presidente Trump tem vindo, de forma consistente, a quebrar
as promessas feitas à classe média, o congressista Kennedy entende os
desafios que se colocam aos homens e às mulheres que trabalham
arduamente pelo país”, considerou a líder da minoria democrata na Câmara
dos Representantes, Nancy Pelosi.