Guterres adverte Trump para risco de guerra com o Irão
O secretário-geral da ONU declarou em entrevista à BBC que o acordo com o Irão foi "uma vitória diplomática importante", e que não deveria ser cancelado "a não ser que tenhamos uma boa alternativa".
Em entrevista à BBC, António Guterres instou o presidente
norte-americano a preservar o acordo nuclear com o Irão. Até ao próximo
dia 12 de Maio, Donald Trump deverá tomar uma decisão sobre o destino do
acordo assinado pelo seu antecessor, Barack Obama, após laboriosas
negociações com o Irão.
Nessa data, Trump anunciou que voltará a uma política de drásticas
sanções económicas contra o Irão, caso entretanto o acordo não seja
substancialmente alterado. Segundo o actual inquilino da Casa Branca,
este é "o pior acordo de sempre".
O Irão, por seu lado, tem lembrado que o acordo é para cumprir e que não
tenciona negociar alterações. O presidente iraniano, Hassan Rouhani,
sublinhou que os EUA não podem unilateralmente cancelar um acordo
assinado entre sete países. Assim, a referência de Guterres a uma
eventual "boa alternativa" ao acordo, que possa vir a existir no futuro,
não tem de momento qualquer ponto de sustentação por parte do Irão.
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A União Europeia, também parte do acordo, tem dado repetidos sinais de
que pretende mantê-lo. Países membros de decisiva influência,
nomeadamente a França, a Alemanha e, ainda, o Reino Unido têm reiterado,
cada um, essa posição comum.
Contudo, Donald Trump vem prosseguindo uma vigorosa campanha para o
cancelamento do acordo, em coordenação estreita com o primeiro-ministro
israelita, Benjamin Netanyahu.
No âmbito dessa campanha, o presidente dos EUA enviou em digressão pelo
Médio Oriente o novo chefe do Departamento de Estado e antigo
responsável da CIA, Mike Pompeo.
Netanyahu fez coincidir com a visita de Pompeo uma espectacular
conferência de imprensa, por muitos comparada com o famoso discurso de
Colin Powell a apresentar no Conselho de Segurança da ONU as "provas" da
existência de armas de destruição massiva no Iraque.
Aí apresentou o líder israelita a revelação de documentos alegadamente
descobertos pela Mossad com a revelação de que o Irão teve um programa
nuclear secreto. Contudo, o programa a que se refere a "revelação" data
de 2003 e o acordo subscrito entre o Irão e os co-signatários
internacionais data de 2015. Desde a assinatura do acordo, tem havido
inspecções da AIEA (Agência Internacional de Energia Atómica), que
controlam o seu cumprimento por parte do Irão.
Mesmo assim, Pompeo imediatamente comentou a conferência de imprensa de
Netanyahu como prova de que o acordo com o Irão deve ser cancelado, caso
não seja submetido a uma revisão profunda. E acrescentou que esse a
acordo estava "construído sobre mentiras".