Irão. Estados Unidos abandonam acordo nuclear
O Presidente norte-americano anunciou esta terça-feira que os Estados Unidos vão voltar a impor sanções económicas que o acordo nuclear tinha congelado desde 2015, confirmando que o país vai abandonar o acordo nuclear firmado há três anos por várias potências internacionais.
Quase quinze meses após chegar à Presidência, a administração Trump
volta a virar costas às restantes potências aliadas e aos entendimentos
multilaterais. Foi a partir da “Diplomatic Room” da Casa Branca
que Donald Trump anunciou esta terça-feira, por volta das 14h00 locais
(19h00 em Lisboa), o abandono de um acordo internacional histórico,
alcançado ao fim de quase dois anos de intensas negociações.
"Anuncio hoje que os Estados Unidos se retiram do acordo nuclear com o
Irão. Daqui a pouco, vou assinar um memorando presidencial para repor as
sanções económicas norte-americanas sobre o regime iraniano", anunciou o
Presidente norte-americano.
Donald Trump tinha prometido o anúncio de uma decisão sobre o acordo
nuclear para esta terça-feira, ainda que a decisão oficial só fosse
esperada no dia 12 de maio, a data limite concedida aos parceiros para
“corrigir” o acordo.
"Vamos instituir o nível mais elevado de sanções económicas. Qualquer
nação que ajude o Irão na sua busca de armamento nuclear pode igualmente
ser alvo de fortes sanções pelos Estados Unidos. A América não vai ser
refém de chantagem nuclear", disse ainda o Presidente norte-americano.
Promessa iraniana "era uma mentira"
A decisão não é inesperada. Durante a tarde de terça-feira, poucas horas antes do anúncio de Trump, o jornal New York Times revelava que o Presidente já tinha anunciado ao homólogo francês, Emmanuel Macron, a intenção de abandonar o acordo.
Para além disso, desde há muito que era conhecida a oposição do
Presidente norte-americano ao acordo nuclear. Muitas vezes definido como
“horrível” ou “o pior acordo de sempre”, Donald Trump indicou em várias
ocasiões que o acordo deveria ser alterado.
As principais objeções de Donald Trump ao acordo versam sobre os limites
temporais do programa nuclear, uma vez que o acordo prevê o
levantamento progressivo do controlo das atividades nucleares iranianas
após 2025, mas também a não-inclusão de questões que ultrapassam o
programa nuclear, desde logo a intervenção e envolvimento do Irão em
conflitos regionais – com destaque para a Síria e o Iémen – ou ainda o
programa de mísseis balísticos.
Durante a intervenção desta terça-feira, o Presidente norte-americano
não se esqueceu de referir esses mesmos fatores, lembrando que o acordo
não impõe limites sobre "outras condutas malignas", designadamente o
programa de mísseis e as ligações de Teerão a "movimentos terroristas"
como o Hezbollah.
No entendimento do chefe de Estado norte-americano, nem sequer a questão
nuclear é resolvida com o acordo. "O acordo supostamente protege os
Estados Unidos e os nossos aliados da loucura de um Irão com uma bomba
nuclear. (...) No entanto, este acordo permitiu ao Irão continuar a
enriquecer urânio durante todo este tempo e ficar mais próximo de obter
armamento nuclear. Hoje, temos a prova definitiva de que a promessa
iraninana era uma mentira", frisou.
Um acordo "defeituoso"
Durante a comunicação desta terça-feira, Donald Trump denunciou que o
regime iraniano não deixou de procurar o desenvolvimento de armas
nucleares ao longo da sua história recente. Na visão do Presidente
norte-americano, o acordo nuclear assinado em julho de 2015 é um "grande
embaraço" para Washington e para todos os cidadãos norte-americanos, um
entendimento "defeituoso até à sua essência".
"Se permitisse que este acordo se mantivesse, em breve teríamos uma
corrida ao armamento nuclear no Médio Oriente. Todos quereriam ter uma
arma nuclear a postos caso o Irão tivesse a sua", acrescentou.
A decisão de Donald Trump surge no mesmo mês em que o Presidente
norte-americano prepara uma cimeira histórica com o líder norte-coreano,
Kim Jong-un, também com o dossier da desnuclearização em cima da mesa.
"Se o acordo nuclear não pode ser corrigido, os Estados Unidos não podem
continuar a fazer parte dele", assinalou Donald Trump. O Presidente
norte-americano frisou ainda que Washington "nunca faz ameaças vazias".
"Quando faço promessas, eu cumpro", disse ainda.
Quais são os termos do acordo?
O acordo nuclear histórico, designado por Joint Comprehensive Plan of Action (JCPOA) foi assinado a 14 de julho de 2015 em Viena, na Áustria, ao fim de quase 12 anos de tentativas falhadas de negociação.
Na altura, o entendimento foi celebrado entre Teerão e o grupo P5+1, que
juntava os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das
Nações Unidas (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido) e a
Alemanha.
Nas negociações participaram igualmente as instituições europeias, com a
intervenção da Alta Representante da União Europeia para a Política
Externa, Federica Mogherini.
Em resumo, o acordo nuclear destina-se a evitar que o Irão consiga
reunir o material necessário à produção de armas nucleares no período de
pelo menos dez anos, reconhecendo ao mesmo tempo o direito dos
iranianos a usufruírem um programa nuclear para fins pacíficos.
Esse programa específico foi uma das principais exigências dos iranianos
durante as negociações, uma vez que o país é signatário do Tratado de
Não-Proliferação Nuclear (TNP), que prevê precisamente o direito ao
enriquecimento de urânio dos seus signatários para fins não-militares.