Há vendedoras em Cabo Verde que preferem ‘totocaixa’ em vez dos bancos

"Eu jogo ‘totocaixa’ há vários anos, desde que vendo neste mercado”, diz, em crioulo, à Lusa, Maria Gonçalves, vendedora de fruta no recinto situado no Plateau, centro histórico e zona pedonal da Praia.

“Não tenho tempo para ir ao banco e ficar na fila para guardar o dinheiro", perdendo clientes, refere, ao explicar porque prefere entregar aquilo que ganha ao que chama uma ‘caixeira’.

A ‘caixeira’ é a pessoa do grupo de ‘totocaixa’ que todos os dias recebe 300 escudos cabo-verdianos (2,72 euros) de cada um dos 40 participantes, como Maria Gonçalves.

E, em cada dia, uma pessoa da lista - seguindo a ordem de inscrição - recebe o valor total depositado pelo grupo, que ronda os 12 mil escudos (cerca de 109 euros).

Cada grupo pode ter as suas regras: quem participa usa o verbo jogar para falar da aplicação da verba num grupo de ‘totocaixa’, entre os que funcionam no Mercado Municipal com diferentes números de pessoas e valores.

Miriam Carvalho, vendedora de verduras, frequenta o mercado desde criança, desde o tempo em que levava o almoço à mãe, vendedora.

Às vezes era ela que, por momentos, ficava a tomar conta da banca.

Agora, é Miriam que tem um filho ao colo, enquanto toma conta da banca, que herdou da mãe, e com a qual paga as contas de casa.

O ‘totocaixa’ é a forma informal de substituir uma conta bancária e a forma de conseguir juntar poupanças, “é como um rendimento, ajuda-nos a juntar dinheiro”, explica, em crioulo.

“É uma vantagem. Sem ele, não somos nada. Com esse dinheiro conseguimos rapidamente fazer a nossa casa, sustentamos os nossos filhos e compramos outras coisas que almejamos", salienta.

Ter o dinheiro em casa não é solução, diz, porque vai acabar por gastá-lo.

E à semelhança de Maria Gonçalves, Miriam também diz que o tempo de espera nas filas de um banco não compensa os clientes que perde.

O ‘totocaixa’ continua a ser o sistema preferido, apesar de reconhecer que nem sempre é o mais organizado.

Se a pessoa ‘caixeira’ tiver "muitos compromissos", pode não conseguir amealhar e distribuir as verbas nos prazos acordados.

Dez metros ao lado, está a banca de Maria Conceição, que vende há 28 anos no mercado e desde sempre tem utilizado o sistema como forma de poupança.

Reconhece que é arriscado e dá o exemplo de um dia em que lhe calhava receber o valor acumulado pelo grupo, mas a pessoa responsável desapareceu.

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