PR cabo-verdiano insiste em necessidade de articulação depois de encontro de PM com Zelensky
“Não há mal nenhum em o Presidente da Ucrânia ser recebido no Sal pelo primeiro-ministro, até porque eu não teria disponibilidade de agenda para deslocar-me à ilha”, escreveu na sua página oficial no Facebook.
“Aliás, semanas antes, mantive conversações por telefone com o Presidente Zelensky”, disse, acrescentando que o Governo já lhe explicou “as razões”, com as quais se pode concordar ou não, “porque os procedimentos usuais de comunicação e articulação não foram efetivamente realizados”.
Esta posição surge depois de o chefe de Estado cabo-verdiano se ter queixado, na segunda-feira, de ter sido confrontado com o “facto consumado” de um encontro do primeiro-ministro com Volodymyr Zelensky.
O Governo referiu depois, na terça-feira, em comunicado, que o líder ucraniano tinha solicitado, na quinta-feira, “de forma expressa, um encontro com o primeiro-ministro de Cabo Verde” para sábado e que José Maria Neves foi informado na sexta-feira.
Mas o chefe de Estado voltou hoje a reagir: “Articulação refere-se à discussão em torno de ideias diferentes ou antagónicas para a busca de entendimentos. Não se trata, pois, de uma mera informação”, referiu José Maria Neves.
O Presidente cabo-verdiano tem se queixado de falta articulação política em diferentes dossiês, nomeadamente ao nível da política externa, como aconteceu quando Cabo Verde se absteve, em outubro, na votação das Nações Unidas por um cessar-fogo humanitário entre Israel e Hamas.
Na altura, o chefe de Estado disse que não compreendia a posição perante valores humanitários e acusou o Governo de agir sozinho em matérias de política externa, abeirando-se da “deslealdade constitucional” na relação com o chefe de Estado.
O Presidente detalhou ainda na mensagem de hoje que “quase todos os meses passam presidentes da república pela Ilha do Sal”, exemplificando que, já esta semana, “o Presidente do Botsuana esteve, por algumas horas, na ilha”.
“Se houver razões ponderosas, feitas as articulações, o Presidente da República desloca-se da Praia [para o Sal] para receber o seu homólogo”, disse, acrescentando que, no caso de Lula da Silva, em agosto e após contactos, o Presidente brasileiro decidiu fazer escala na Praia e os dois chefes de Estado encontraram-se no Aeroporto Nelson Mandela.
“Quando se trata de sobrevoos, geralmente o chefe de Estado em questão saúda, através do Presidente da República, por telegrama, o povo de Cabo Verde. No que se refere à escala do Presidente ucraniano, nenhum dos procedimentos costumeiros foi realizado. Não houve comunicação à Presidência da República nem quaisquer articulações”, acrescentou. A Semana com Lusa