Vice-PM cabo-verdiano compara desemprego em África a “bomba atómica”
“Nós não podemos manter o ‘status quo’ no continente africano. Nós temos hoje um ‘gap’ [lacuna] em África a rondar 17,5 milhões de empregos, por ano para os nossos jovens”, referiu Olavo Correia, num evento público na Bolsa de Valores de Cabo Verde.
“Isso, ao longo de 10 anos, são mais de 175 milhões de desempregados jovens em África. Para mim, essa é uma bomba atómica que está à nossa frente, que está a crescer todos os dias e, se nós não conseguirmos dar resposta, será um drama”, acrescentou o governante, que é também ministro das Finanças e do Fomento Empresarial e ministro da Economia Digital.
Olavo Correia apelou a uma “mudança de ‘chip’, criando soluções para dar resposta à procura ao nível do mercado de trabalho”, tornando África no continente do século XXI.
A mudança deve assentar no combate às burocracias – reconhecendo que, mesmo em Cabo Verde, “mata” boas ideias –, na velocidade das respostas e em projetá-las com escala, para se conseguir mais benefícios.
“Temos um grande potencial de crescimento, de oportunidades, que muitas vezes morrem nas teias da burocracia e, para mim, isso dói muito”, referiu, questionando a postura de chefias intermédias na administração pública.
Mantendo-se as taxa de crescimento económico atuais, a situação “vai ser um drama para o continente africano, com jovens desempregados, sem esperança, sem expectativas positivas, a olhar para a emigração em condições dramáticas”.
“Se nós mantivermos tudo constante, como está hoje, em África e em Cabo Verde, não vamos conseguir dar resposta à demanda dos jovens, porque nós não podemos continuar a insistir em ganhos incrementais”, referiu, pedindo, em vez disso, “mudanças disruptivas”.
Apontou como exemplo a distribuição de 300 ‘kits’ de criação de emprego, anualmente, pela sua equipa de fomento empresarial, reconhecendo que o número tem de chegar aos 3.000 por ano.
“Nós não podemos continuar a crescer a 5% [ao ano], mesmo que seja um bom nível de crescimento em relação ao continente africano, porque não é suficiente para a procura do mercado de trabalho em Cabo Verde”, disse.
“Temos que olhar para a energia, para as conectividades aéreas, marítimas e terrestres”, acrescentou, no que respeita à atividade setorial, mas apontando o setor financeiro – dirigindo-se aos presentes, na sala da BVC – e o próprio Governo como peças centrais para que se criem mais oportunidades.