Diretor da PJ de Cabo Verde justifica declarações sobre "infiltrados" no Estado
Num comunicado enviado à Lusa, o diretor da PJ, Manuel da Lomba, avançou que a sua referência foi feita dentro de um “contexto específico, com o único propósito de demonstrar a sofisticação e a amplitude que o fenómeno criminal poderá alcançar”.
Para o também procurador da República, por vezes esses fenómenos conseguem infiltrar-se no próprio aparelho do Estado, “bem como dificultar sobremaneira a investigação criminal, facto esse que não se deve negligenciar”.
“Assim sendo alerta às instituições do Estado a manterem imunes a essas tentações, prevenindo para que não venha acontecer, principalmente as ligadas ao setor da justiça”, prosseguiu, o diretor, garantindo que, caso houvesse essas situações, ainda que indícios, o próprio, enquanto procurador, teria o “dever” de as denunciar ou agir em conformidade.
Na terça-feira, no seu discurso, após ser empossado como novo diretor da PJ, Manuel da Lomba alertou para a existência de "pessoas infiltradas" em instituições do Estado que apoiam a prática de crimes, sem mais detalhes.
“Em tempos de crise, há sempre uma janela de oportunidade que se abre para o mundo do crime e, diante disso, não podemos negligenciar que a criminalidade é cada vez mais organizada, sofisticada e transnacional, com recursos, tecnologias e ‘saber fazer’ à disposição, com apoio de pessoas infiltradas em instituições do Estado, com as quais, infelizmente, ombreamos diariamente no combate ao crime”, referiu no seu discurso.
Instado na altura esclarecer a afirmação, da Lomba lembrou que o Estado é vasto, que o crime não tem a ver com o cargo, mas sim com o ser humano, e que pode ir do consumo de drogas a outros ilícitos, como o tráfico de influências ou corrupção.
Por isso, entendeu que não se deve ser ingénuo e é preciso apostar na prevenção destes crimes.
Na mesma cerimónia de posse, a ministra da Justiça, Joana Rosa, respondeu que não tem conhecimento de casos concretos, após o discurso do novo responsável máximo pela polícia criminal cabo-verdiana, que é também procurador da República.
Também hoje, em resposta a questões colocadas pela Lusa, o gabinete do primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, respondeu à Lusa que “o próprio diretor da PJ deverá pronunciar-se sobre o assunto e esclarecer possíveis dúvidas".
Já a Procuradoria-Geral da República (PGR) de Cabo Verde, considerou que essa referência “não configura denúncia”, mas sim de “uma afirmação, num discurso”.
A Semana com Lusa